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O whisky falso e a ressaca

Carta do MêsAlguém já disse uma vez que a generalização é “a ignorância travestida de opinião”. E quando penso que generalizar é a raiz de grandes males da humanidade, como todo tipo de preconceito, percebo o quanto essa definição é profunda. Generalizar é abrir mão do ato de pensar.

Infelizmente, a generalização é um mal que também atinge o ambiente corporativo. Um exemplo diz respeito à deturpação quanto à imagem de consultores de empresas. Existe uma crença no mercado de que o consultor é aquele sujeito pago para fazer um monte de perguntas, escrever calhamaços de papel e não trazer nenhuma resposta para a empresa.

E é justamente por causa dessa percepção equivocada que a palavra “consultor” quando mencionada, é acompanhada de um olhar desconfiado, um arquear de sobrancelhas ou uma torcida de nariz.

Basta uma rápida olhada pelos principais jornais e encontramos, em editorias diferentes, a palavra consultor associada a várias atividades. Há consultor para tudo e para todos. Até parece que funções foram extintas nos últimos anos. Exagero? Já perceberam que os corretores de imóveis são agora “consultores imobiliários” e os antes chamados corretores de valores mudaram para “consultores financeiros”? Na área comercial de muitas empresas, não se encontra mais um só vendedor, mas sim o “consultor de vendas”.

Inclusive aquele profissional que estava desempregado optou por autodenominar-se, temporariamente, “Consultor” para mascarar a vacância, até recolocar-se no mercado.

Nesse meio tempo, ele se aventura em assessorar empresas, oferecendo serviços de consultoria, por preços de fazer inveja a qualquer “whisky de fronteira”. A despeito da simpatia e do esforço, os serviços desse “Consultor” se mostram completamente inúteis. Dinheiro, tempo e expectativa perdidos, sem falar no prejuízo que causa à empresa, com orientações descabidas e mudanças inconsequentes.

Esta banalização da nomenclatura acaba gerando certos problemas para quem, de fato, exerce a atividade de consultoria. Há uma profusão de consultores despreparados e amadores que comprometem a atuação dos sérios, pois criam resistências aos serviços.

Isso me faz lembrar a história de uma personalidade bastante conhecida no mundo fashion que optou por entregar seu rosto para um cirurgião plástico que apresentou, entre tantos outros, um orçamento imbatível. Como o único critério foi preço, ela não se deu ao trabalho de pesquisar o histórico profissional do cirurgião, a experiência, a especialização e a reputação dele. O resultado foi desastroso com sérias complicações pós-operatórias, deformação do rosto e prejuízo temporário da carreira, uma vez que o ganha-pão era a imagem glamourosa.

Agora, imagine pegarmos esse caso isolado e generalizá-lo para toda essa categoria profissional, dizendo aos quatro cantos que não acreditamos em cirurgião plástico. Seria um absurdo! Ainda mais quando temos na memória um Ivo Pitanguy, entre muitos outros profissionais, que transformaram o Brasil em referência mundial nesta especialidade médica. Ou seja, percebemos como a generalização é injusta e perigosa. Mas como saber a diferença? Como fazer a escolha certa?

Antes de qualquer coisa, vale ressaltar que o serviço de consultoria é uma atividade intelectual altamente especializada e profissional, baseada em metodologias diversas e de reconhecida comprovação. O consultor gabaritado é um profissional que vai mexer com e no coração da sua empresa. Por isso, a escolha se assemelha à de um cardiologista: peça indicações, saiba o histórico, os ex e atuais clientes, os resultados práticos do trabalho. Outro tópico importante é saber como funciona a retaguarda, se a equipe de suporte é experiente e se realmente vai agregar competência ao profissional escolhido.

E um aviso: palestrante e consultor são especialidades diferentes. Nem sempre o bom palestrante é também um bom consultor.

Evite imitações. Elas sempre vão trazer dor de cabeça e aí, depois, não adianta reclamar. Afinal, quem compra whisky falsificado não tem direito de reclamar da ressaca.

Pense nisso e até a próxima carta do próximo mês.

Denis Mello

Diretor-presidente

Pequisar

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